Um estudo realizado pelo Instituto do Sono em 2010, na cidade de São Paulo, levou 1042 pessoas, de 20 a 80 anos, escolhidas pelo Datafolha, para a realização do exame de polissonografia. Resultado: 33% da população adulta foi diagnosticada com apneia obstrutiva do sono (AOS)!
Existem 49 milhões de apneicos no Brasil, 1 bilhão no mundo e 85% deles não têm diagnóstico e seguem sem suspeita diagnóstica. São números alarmantes e preocupantes já que a apneia é uma doença potencialmente fatal.
Do latim; “A” significa não e “pneia”, respiração. Essas paradas respiratórias que acontecem repetidas vezes durante o sono, causam quedas na oxigenação sanguínea, sobrecarregando todo o sistema cardiovascular, alterando a arquitetura do sono e causando impactos profundos na vida do paciente.
Infarto, AVC, hipertensão, fibrilação atrial, diabetes tipo 2, perda de concentração e memória, baixa libido, impotência sexual, Alzheimer, sete vezes mais riscos de acidentes de trânsito e de trabalho, baixo desempenho, irritabilidade, mau humor e até morte súbita durante o sono, são alguns dos problemas relacionados ao subdiagnóstico dessa doença.
Estes pacientes já estão sentados nas cadeiras dos nossos consultórios, basta estarmos atentos e treinados para reconhecê-los.
Um sinal clássico é o ronco! Roncar não é inocente como parece e tão pouco é piada. Um estudo mostrou que havendo ronco por pelo menos ¼ da noite as chances de espessamento da artéria carótida pela formação de placas de ateroma eram significativas maior.
O bruxismo, tão conhecido e tratado no nosso dia a dia, também merece nossa atenção. Estudos mostram que a placa estabilizadora pode piorar o ronco e a apneia!
E qual o papel do cirurgião dentista frente a Apneia Obstrutiva do Sono?
Dos tratamentos disponíveis para a AOS, 3 são executados pelo dentista: na infância as disjunções maxilares e os tratamentos ortopédicos faciais e no adulto a cirurgia de avanço bimaxilar e mentoplastia além do aparelho de avanço mandibular.
A Academia Americana do Sono, em seu último guideline, indica para o tratamento do ronco e da AOS leve e moderada, o aparelho de avanço mandibular como primeira opção. Para a AOS grave, o CPAP.
Quando o paciente se nega ou não se adapta ao CPAP, o aparelho de avanço mandibular pode ser indicado.
Existe um tipo de polissonografia que é feito em casa, com um sensor na ponta do dedo, que envia as informações para a nuvem e o resultado vem laudado por um médico do sono. Além de democratizar o acesso ao exame, também possibilita o acompanhamento da terapia, seja com o CPAP, aparelho intraoral ou com terapia fonoaudiológica, por exemplo.
O dentista está, literalmente, de cara com o problema e possui ferramentas para o tratamento dessa doença, que é, sem dúvidas, um problema de saúde pública.
Alexandre Urso Annibale
CROSP 77712
Especialista em Ortodontia
Capacitado em Odontologia do Sono
Doutorando pelo Laboratório do Sono do InCor/HCFMUSP
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