NUTRIÇÃO NO PACIENTE HOSPITALIZADO POR COVID-19
Ainda não existe tratamento nutricional específico para pacientes acometidos pela COVID-19. As condutas nutricionais visam aliviar os sintomas gerados pela febre (anorexia e desidratação) e pelos problemas respiratórios (fadiga e dispneia), garantindo a hidratação e alimentação adequadas. A anorexia gera ingestão inadequada de alimentos e aumento da desidratação, não sensível, causada pela febre, o que pode levar à hipotensão, por isso a hidratação é fundamental para esses pacientes. Para manter a hidratação adequada, recomenda-se ingestão de 30 a 40 ml de líquidos por quilo de peso, optando-se por água, que pode ser aromatizada para facilitar aceitação, ou através da oferta de sucos naturais (da fruta ou polpa) e água de coco. O consumo de chás também pode ser adotado como estratégia para hidratação, lembrando que não há evidências científicas de que alguma erva / planta ajude a combater o coronavírus, embora algumas infusões possam auxiliar no alívio dos sintomas. No caso de odinofagia, desconforto respiratório leve ou náuseas recomendase adequação da consistência para facilitar a deglutição. A oferta de alimentos abrandados por cocção, mais macios e úmidos, como sopas ou purês, facilita a alimentação na presença de tais sintomas.
Alguns nutrientes como vitamina A, vitamina C, vitamina E, vitamina D, selênio e zinco, contribuem para o funcionamento adequado do sistema imunológico, mas ainda não há evidências científicas de que a suplementação dos mesmos esteja associada a um menor risco de infecção, nem ao tratamento da COVID-19, embora alguns estudos de revisão sugiram a utilização de tais nutrientes. A recomendação é o consumo de uma alimentação balanceada e colorida, rica em frutas, verduras, legumes, além de fontes proteicas (carnes, ovos, leguminosas) e oleaginosas (castanhas e nozes), a fim de conseguir tais nutrientes. Nos casos mais graves, que cursam com insuficiência respiratória e necessidade de intubação oreotraqueal, o suporte nutricional deve ser instituído, priorizando a nutrição enteral. Uma avaliação precoce do risco nutricional do paciente, deve ser levada em consideração para o delineamento das estratégias nutricionais e o suporte nutricional enteral deve ser introduzido em até 48 h da admissão na UTI, quando possível, monitorando-se principalmente, a oferta de energia, proteínas e manutenção do balanço hídrico. Em relação a oferta calórica, recomenda-se de 25 a 30 kcal / kg / dia. A oferta proteica adequada fica na faixa de 1,2 a 2,0 g de proteína por kg / dia. Pacientes graves apresentam atrofia muscular devido ao aumento do catabolismo protéico, o que afeta a sobrevida e o prognóstico, podendo dificultar o desmame da ventilação mecânica. Em casos mais graves, em que o paciente deve ser pronado, pode haver dificuldade com alimentação enteral, devido a vômitos ou aumento de resíduo gástrico, por isso é importante que a instituição adote protocolos adequados que minimizem os riscos ao paciente e possam otimizar a terapia nutricional enteral. No momento em que se esgotam os recursos terapêuticos para o controle da doença e lesões orgânicas, nestes pacientes hospitalizados, cabe a equipe multiprofissional reunir esforços para prestar cuidados mais eficientes e humanizados, não dirigidos à cura, mas pensando em aliviar os sintomas que causam desconforto e sofrimento (cuidados paliativos), estendendo essa intervenção às famílias dos pacientes, e neste momento, o uso da terapia nutricional deve ser reavaliado. Se a nutrição, embora necessidade básica e parte do tratamento, passa a ser um procedimento invasivo e doloroso, ocasionando desconforto ao paciente, gerando mais danos do que benefícios.... neste momento, nutrir deixa de ser imprescindível.
Nutricionista Luciene de Oliveira
Nutricionista Regina Helena Marques Pereira
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