04 de maio de 2024 - SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMPARTILHE:                          COMPARTILHE:

No mês de prevenção ao câncer de próstata, Socesp realiza bate-papo com especialista em Cardio-Oncologia

O Novembro Azul é um período em que a conscientização sobre o câncer de próstata ganha espaço na mídia e na sociedade. Reconhecendo e apoiando o movimento, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) conversou com a professora Doutora. Ludhmila Hajjar, docente associada e coordenadora de Cardio-Oncologia da Faculdade de Medicina da USP, coordenadora nacional da Cardio-Oncologia da Rede Américas e Chefe da UTI do Hospital Paulistano. 

No bate-papo, a especialista, membro da Socesp, explicou que, nos últimos anos, se tem notado um aumento na incidência da doença no Brasil, segundo tipo de câncer mais comum entre os homens (atrás apenas do de pele não-melanoma). Ela salientou que a evolução dos métodos diagnósticos, mais conscientização sobre a doença e aumento na expectativa de vida refletem-se nas estatísticas.

Esse tipo de câncer é considerado uma doença da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Seu diagnóstico pode ser feito por meio da ultrassonografia, toque retal, dosagem do PSA e biópsia.

Confira abaixo o material completo: 

Socesp: Qual é o principal tratamento do câncer de próstata? O bloqueio hormonal faz parte destas opções?

Dra. Ludhmila Hajjar: A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida de acordo com o estado do tumor e com as possíveis doenças pré-existentes do paciente.

Para a doença localizada, a cirurgia e a radioterapia são as modalidades de tratamento mais indicadas. Para os casos localmente avançados, radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados. Já em estágio metastático, o tratamento mais indicado é a terapia anti-hormonal. 

É verdade que este bloqueio hormonal pode agravar doenças cardíacas pré-existentes? Quais seriam essas doenças?

LH: Sim, é verdade. Contundo, o bloqueio hormonal é um tratamento bastante eficiente e, de acordo com pesquisas, é capaz de reduzir a mortalidade dos pacientes com esse tipo de câncer em 40%.

Por outro lado, um estudo observacional realizado por *Keating e colaboradores, analisou uma população de mais de 73 mil pacientes com diagnóstico de câncer de próstata localizado. A pesquisa demonstrou que o uso de agonistas de GNRH ( bloqueadoras hormonais) estava associado com aumento de 44% do risco de desenvolvimento de diabetes, 11% de infarto do miocárdio e 16% de morte súbita.  Outra pesquisa, realizada por *Tsai e colaboradores, acompanhou mais de mil pacientes submetidos a bloqueio androgênico e registrou uma incidência cumulativa de morte cardiovascular em cinco anos de 5,5% naqueles com mais de 65 anos de idade. Essa incidência foi significativamente menor para pacientes sem bloqueio, com risco de 2%, e para aqueles com menos de 65 anos, com 3,6% de risco.

Esses estudos apresentam limitações, principalmente por serem retrospectivos. Ainda assim, a diferença de mortalidade entre os grupos é muito significante e sugere um papel do bloqueio nessa diferença.  

Pacientes que passam por tratamento contra câncer de próstata têm que ser avaliados e acompanhados por cardiologistas?

LH: O acompanhamento com o cardiologista é essencial ao paciente portador de câncer de próstata. A maioria deles já apresenta múltiplos fatores de risco cardiovasculares e, considerando os efeitos da terapia anti-hormonal no sistema cardiovascular, se faz necessário um acompanhamento do paciente desde o início do diagnóstico do câncer para que se possa estabelecer metas de prevenção cardiovascular, além de realizar diagnóstico precoce e instituir terapias adequadas na presença de complicações. 

E em pacientes que não têm doenças cardíacas pré-existentes? É possível que o tratamento seja o pontapé inicial para problemas cardiovasculares?

LH: A literatura tem demonstrado que não só doenças cardíacas prévias, mas a presença de fatores de risco cardiovasculares aumentam de maneira significante a ocorrência de doenças cardíacas no paciente oncológico. O tratamento anti-hormonal pode potencializar fatores de risco pré-existentes e até mesmo induzir a ocorrência da síndrome metabólica e de doenças cardiovasculares.

É possível que a redução de testosterona altere níveis de glicose e colesterol no sangue? Como isso ocorre?

LH: A redução dos níveis plasmáticos de testosterona, obtida por meio do bloqueio hormonal, pode resultar em aumento da resistência periférica à ação da insulina, elevação da glicemia e aumento dos níveis de colesterol LDL e HDL.

Qual é a importância da Cardio-Oncologia na medicina? É uma especialidade que tem ganhado espaço no Brasil?

LH: As doenças cardiovasculares nos pacientes com câncer são eventos cada vez mais frequentes, em decorrência de avanços na terapêutica oncológica que resultaram tanto na melhora da qualidade de vida como no aumento da sobrevida dos pacientes. Nas últimas décadas, os progressos no tratamento oncológico resultaram também na maior exposição dos pacientes a fatores de risco cardiovasculares e à radioterapia, quimioterapia e imunoterapia com potencial de cardiotoxicidade. Atualmente, observa-se uma mudança no paradigma em relação ao prognóstico do paciente oncológico, que passa a ser visto como um portador de uma doença crônica que ao longo de sua evolução pode apresentar descompensações agudas, como as manifestações cardiovasculares. A Cardio-Oncologia tem como meta principal promover a prevenção, o diagnóstico adequado e o tratamento das doenças cardiovasculares, corroborando para o aumento da sobrevida e da qualidade de vida dos pacientes.

 *Keating NL, O'Malley AJ, Smith MR. Diabetes and cardiovascular disease during androgen deprivation therapy for prostate cancer. J Clin Oncol. 2006; 24 (27): 4448-56. 

*Tsai HK, D'Amico AV, Sadetsky N, Chen MH, Carroll PR. Androgen deprivation therapy for localized prostate cancer and the risk of cardiovascular mortality. J Natl Cancer Inst. 2007; 99 (20): 1516-24.

BUSCA EM NOTÍCIAS




Siga-nos