24 de abril de 2024 - SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CLIMATÉRIO, ROGÉRIO BONASSI MACHADO

Rogério Bonassi Machado é médico ginecologista, Livre-Docente em Ginecologia pela Unesp, presidente da Associação Brasileira de Climatério e diretor científico da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo – SOGESP


SOCESP: A SOCESP irá promover uma manhã inteira para debater a saúde da mulher em seu Congresso e, pela primeira vez, uma parceria com a SOGESP e Associação Brasileira do Climatério foi firmada. Qual é a importância, na sua visão, desse debate entre as duas especialidades?


Rogério Bonassi Machado: As modificações hormonais que ocorrem no período do climatério favorecem a progressão de doenças cardiovasculares. O envelhecimento natural e os fatores associados, como sedentarismo, hipertensão arterial e obesidade, entre outros, fazem com que as mulheres no climatério sejam particularmente mais vulneráveis às doenças cardiovasculares. O estudo do climatério envolve necessariamente a avaliação do risco cardiovascular, muito mais afeita ao cardiologista. Por outro lado, a utilização do estrogênio, tratamento mais familiar para o ginecologista, pode trazer dúvidas para o cardiologista. Há 20 anos foi publicado um dos estudos mais impactantes sobre o uso da terapia hormonal no climatério – denominado estudo WHI (Women’s Health Initiative) – que não mostrou benefícios cardiovasculares entre as usuárias desse tratamento. A partir de então numerosos estudos tentam interpretar os dados desse estudo, confrontando os resultados aparentemente distintos dos estudos de coorte, como o estudo das enfermeiras norte americanas – NHS (Nurse’s Health Study). Dessa forma, o assunto é relevante tanto para os cardiologistas quanto para os ginecologistas, que atendem no seu dia-a-dia mulheres que devem ter atenção particular nesse período de vida. A interação entre as entidades de classe focada no assunto tem grande papel na orientação do médico de acordo com as melhores evidencias, motivadas pela discussão entre os especialistas.


SOCESP: A mulher negligencia as doenças cardiovasculares? Por que isso ainda ocorre?


Rogério Bonassi Machado: Eu não diria que as mulheres negligenciam as doenças cardiovasculares, mas podem não ter orientação e pouca conscientização a respeito. O fato é que as doenças cardiovasculares muitas vezes são silenciosas. A mulher não tem o cardiologista como seu médico de rotina, diferentemente do ginecologista, especialista que a mulher procura ao menos uma vez por ano. A avaliação do risco cardiovascular deve fazer parte da rotina do ginecologista, em especial no período do climatério, a exemplo da aferição sistemática da pressão arterial, abordagem do sobrepeso/obesidade e orientação quanto aos hábitos de vida, como cessação do tabagismo e estímulo a atividade física. Essas medidas simples tem grande importância na abordagem clínica das mulheres no climatério pelo ginecologista, pois abrem perspectivas que, além de alguma suspeita diagnóstica e posterior encaminhamento, fazem parte da conscientização acerca das doenças que ainda são as principais causas de mortalidade no mundo todo.


SOCESP: O que temos no arsenal terapêutico para reposição hormonal na menopausa? E o que é recomendado? Quais as reais contraindicações cardiovasculares?


Rogério Bonassi Machado: Em linhas gerais, a terapia hormonal na menopausa (THM) fundamenta-se na utilização dos estrogênios – em geral do 17 beta estradiol. Existem várias composições contendo estrogênios, tanto por via oral quanto pela via transdérmica. Para mulheres não histerectomizadas, há necessidade do uso de um progestagênio, com única finalidade de prevenção da hiperplasia endometrial. Mulheres histerectomizadas não necessitam do progestagênio. Em relação às doenças cardiovasculares, a THM é contraindicada em mulheres que tiveram infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, bem como para mulheres com antecedentes de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar.


SOCESP: Como a mulher pode enfrentar essa fase (menopausa) com saúde? É difícil envelhecer em nossa sociedade?


Rogério Bonassi Machado: Assim como em toda a Medicina, hábitos saudáveis ao longo de toda vida são fundamentais para que a transição menopausal seja mais tênue e a menopausa um evento natural com menores consequências clínicas. Nesse sentido, a adoção de medidas como o controle do peso, da pressão arterial, do tabagismo, do sedentarismo, além da detecção de eventuais manifestações metabólicas, como alterações glicêmicas ou dislipidemias são importantes. A utilização da Terapia Hormonal na Menopausa baseada no uso individual de compostos comprovadamente eficazes e seguros é outro aliado que contribui sobremaneira na qualidade de vida das mulheres. 

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