02 de maio de 2024 - SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Além de serem as maiores vítimas de doenças cardíacas, mulheres têm piores desfechos em cirurgia de revascularização

Além de serem as maiores vítimas de doenças cardíacas, mulheres têm piores desfechos em cirurgia de revascularização 

De acordo com as estatísticas, são mais vulneráveis a complicações no pós-operatório, sendo que as mais jovens, abaixo dos 50 anos, apresentam três vezes mais risco de morte.

*Maria Cristina Izar

Dados do Estudo de Carga de Doença Global (GBD) de 2021 estimaram para o Brasil que as doenças cardiovasculares (DCVs) causariam 162,2 mortes e 3.568,0 DALYs (Disability Adjusted Life Years) para cada 100 mil habitantes, sendo que cada DALY representa a perda de um ano de plena saúde. Embora tenhamos um progresso considerável na diminuição de óbitos por DCVs de 1980 a 2021, houve um aumento preocupante da taxa de “mortalidade bruta”, ou seja, por um período específico e recente e do número de DALYs nos últimos anos. 

DCVs são a principal causa de morte entre mulheres no mundo e foram responsáveis por aproximadamente um terço do total de óbitos femininos em 2021. A doença isquêmica do coração (DIC) contribuiu significativamente para estas estatísticas. Ainda que a recorrência de DIC também tenha diminuído nos últimos 20 anos, os números indicam que a mortalidade entre mulheres de 35 a 54 anos está aumentando. 

Dentro desse quadro, outro agravante – discutido no recente documento Posicionamento sobre Doença Isquêmica do Coração – A Mulher no Centro do Cuidado, da Sociedade Brasileira de Cardiologia – são os óbitos durante e pós Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (RVM). As mulheres submetidas ao procedimento têm maior mortalidade e mais complicações pós-operatórias, apesar de menor carga aterosclerótica. Além disso, as fatalidades, no momento da RVM, são maiores nas mais jovens: estima-se um risco três vezes superior em mulheres com idade inferior a 50 anos.

Vários fatores de ordem epidemiológica, anatômica e/ou relacionados à técnica operatória fazem com que os resultados da cirurgia de RVM em mulheres sejam menos favoráveis. Entre eles, estudos apontam que, na avaliação cirúrgica, as mulheres tendem a apresentar perfil clínico de maior risco operatório, com mais incidência de comorbidades associadas, tais como hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca, síndromes coronarianas agudas e maior grau de comprometimento da função respiratória.

Um dos agentes complicadores da RVM em mulheres é que as artérias coronárias são diretamente proporcionais à superfície corpórea dos indivíduos e, consequentemente, nelas são habitualmente menores do que nos homens. Para se ter uma ideia, quando estratificada por grupos, a mortalidade em pacientes com coronárias calibrosas (2,5 - 3,5 mm) foi de 1,5%, aumentando para 4,6% naqueles com diâmetro intermediário (1,5 - 2,0 mm) e chegando a 15,8% naqueles cujas artérias coronárias tinham diâmetro médio de 1 mm. Essas características menos favoráveis aos enxertos, tanto arteriais como venosos, predispõe à trombose precoce e tendência a espasmos, aumentando a chance de desfechos desfavoráveis.

Ações específicas 

Diante deste cenário árido, temos que insistir na tecla da prevenção junto à sociedade e aos governos. Ações multifacetadas, envolvendo um pool de profissionais em prol da mesma causa – afastar a probabilidade de doenças cardíacas se instalarem ou se agravarem – é a melhor e mais eficiente resposta.

Trata-se de um trabalho plural que envolve, entre outros profissionais, nutricionistas para orientação sobre alimentação saudável; educadores físicos para prescrição da melhor atividade caso a caso; psicólogos para acompanhamento emocional frente aos desafios de combate ao tabagismo, ao alcoolismo, à obesidade e à depressão, além de contribuírem para a correta adesão aos tratamentos propostos. Ciente deste cenário, a SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo mantém oito departamentos (Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Farmacologia, Odontologia, Fisioterapia, Serviço Social e Educação Física e Esporte) e um Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos criados para promover o debate multissetorial sobre saúde cardiovascular.

O Dia Internacional da Mulher (8 de março) nos remete à necessidade de repensarmos as abordagens de cuidados cardíacos específicos para a condição feminina em nossa sociedade. Os números, que deflagram uma realidade cardiovascular não igualitária entre os sexos, requerem iniciativas também subjetivas e que considerem as peculiaridades da mulher neste contexto histórico.


* Maria Cristina Izar é cardiologista, presidente da SOCESP (biênio 2024/2025) e professora adjunta livre docente da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo.

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