18 de março de 2024 - SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMPARTILHE:                          COMPARTILHE:

Tendo início na Europa no ano de 1580, o hábito de fumar se popularizou a partir de 1881 com a criação das máquinas produtoras de cigarros.  As doenças causadas pelo tabaco refletem de forma muito negativa na economia, oferecendo perdas irreparáveis ao setor financeiro e de saúde. Vale ressaltar, que mesmo indivíduos não fumantes, porém, alocados em locais fechados também sofrem consequências do fumo.1

O uso crônico do tabaco tem sido considerado fator de risco para diversas alterações bucais, dentre elas o câncer de boca, halitose, doença periodontal, manchamento dentário, de língua e também de mucosa. Além disso, é comum o relato sobre a diminuição de olfato e paladar por parte de indivíduos fumantes, o que segundo a literatura, ocorre em função da atrofia das papilas gustativas do dorso da língua.2

O uso do tabaco também favorece o aparecimento de doenças sistêmicas como as cardiovasculares. Estudos mostram que há elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca durante as tragadas, o que favorece uma maior absorção de colesterol pelo organismo. Além disso, também aumenta o risco de morte prematura, limitações físicas por doença coronária, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, dentre outras. 

É importante citar que além de fator de risco para as doenças supracitadas, o tabagismo também se apresenta como fator de risco para carcinomas do sistema respiratório, digestório e excretor. A dependência e tolerância nicotínica ocorrem por sua ação em vias dopaminérgicas centrais, o que favorece as sensações de prazer e recompensa mediada pelo sistema límbico. 

Na vigência de lesões em cavidade bucal é fundamental que o cirurgião dentista seja consultado, a fim de identificar o perfil da(s) lesão(ões) e, quando necessário, realizar biópsia para o diagnóstico correto. Muito se fala sobre a realização do autoexame, o qual consiste na inspeção de todas as superfícies da cavidade bucal, principalmente em áreas com maior incidência de lesões cancerígenas como a região posterior da língua e assoalho bucal, e, portanto, esse deve ser sempre enfatizado à população.2

Estudos epidemiológicos têm mostrado que a gravidade de diversas doenças aumenta quanto maior for a frequência do consumo de fumo. No que diz respeito à doença periodontal, alguns autores relatam que a perda de inserção, formação de bolsas periodontais assim como perda óssea alveolar são os achados mais recorrentes. 3Tanto a gengivite como a doença periodontal são consequências do processo inflamatório dos tecidos que promovem a sustentação dentária e o sangramento gengival pode evoluir para casos de mobilidade e até perda dental.

Várias outras lesões podem ser encontradas na cavidade bucal de indivíduos fumantes como a leucoplasia e a eritroplasia. A cavidade bucal está em contato íntimo com o tabaco e, portanto, durante a combustão, há liberação de subprodutos que levam ao ressecamento da mucosa, aumentando assim a camada de queratina, o que facilita a ação de outros elementos carcinógenos. A agressividade acontece em função da liberação de substâncias cancerígenas aliadas às altas temperaturas. O tabaco para mascar também propicia o aparecimento de doenças em cavidade bucal pois resíduos podem ficar acumulados entre a língua e a bochecha, e, assim, há maior tempo de contato entre essas substâncias e a mucosa.

O câncer bucal pode apresentar-se incialmente como feridas na boca ou no lábio que não cicatrizam, áreas com dormência ou inchaço, sangramento sem causa aparente e até mesmo machas esbranquiçadas (lesões leucoplásicas) ou avermelhadas (lesões eritroplásicas) na parte interna da boca ou lábio. Em estágios mais avançados, indivíduos com essas lesões podem apresentar disfagia e até mesmo perda ponderal.

Sendo assim, em função de todos os relatos encontrados na literatura, as ações preventivas são fundamentais para evitar o diagnóstico tardio das lesões bucais, e, até mesmo os imbróglios de condutas de tratamento com fracas evidências científicas. Portanto, a consulta a um cirurgião dentista é imprescindível para o diagnóstico e quando necessário, a abordagem multidisciplinar deve ser preconizada, a fim de se oferecer um melhor prognóstico e uma melhor qualidade de vida ao paciente.

Referências: 

1. Da Silva SA. Malefícios causados pelo tabaco na cavidade bucal. Unversidade Federal de Minas Gerais, 2012.

2. Sham AS, Cheung LK, Jin LJ, Corbet EF. The effects of tobacco use on oral health. Hong Kong Med J. 2003 Aug;9(4):271-7. 

3. Javed F, Rahman I, Romanos GE. Tobacco-product usage as a risk factor for dental implants. Periodontol 2000. 2019 Oct;81(1):48-56

4. McClure JB, Anderson ML, Krakauer C, Blasi P, Bush T, Nelson J, Catz SL. Impact of a novel oral health promotion program on routine oral hygiene among socioeconomically disadvantaged smokers: results from a randomized semi-pragmatic trial. Transl Behav Med. 2020 May 20;10(2):469-477. 

5. de la Oliva J, Larque AB, Marti C, Bodalo-Torruella M, Nonell L, Nadal A, Castillo P, Sieira R, Ferrer A, Garcia-Diez E, Alos L. Oral premalignant lesions of smokers and non-smokers show similar carcinogenic pathways and outcomes. A clinicopathological and molecular comparative analysis. J Oral Pathol Med. 2021 Mar;50(3):280-286. doi: 10.1111/jop.12864. Epub 2019 Jul 9. PMID: 31006144.


BUSCA NO SITE

Acesso restrito

Siga-nos

Últimas notícias