4 de outubro de 2024 - SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
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         Uso de cloroquina- porque não tomar como prevenção?


O novo coronavírus (COVID-19) é um problema de saúde pública e de acordo com estudos, 15% dos pacientes apresentam casos graves da doença. Até o momento não há tratamento farmacológico específico e aprovado para o COVID-19. Porém, pesquisadores do mundo todo tem se esforçado para encontrar tratamentos efetivos. Estudos publicados em revistas internacionais têm trazido esperança para o uso do medicamento cloroquina e seu análogo hidroxicloroquina para uma possível opção de tratamento. Esses fármacos são indicados para o tratamento de artrite reumatoide, lúpus eritematoso, condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela luz e malária. A cloroquina é utilizada há mais de 70 anos, sendo um tratamento de baixo custo, de fácil acesso e também facilmente administrada.  Porém, o efeito e a segurança da cloroquina e de seu análogo no tratamento de SARS COV 2 ainda é incerto.


Não temos estudos na literatura até o momento que comprove a efetividade desse fármaco na prevenção do COVID-19. Além disso, assim como qualquer outro medicamento a cloroquina e seu análogo possuem reações adversas e contraindicações. As principais reações adversas são retinopatia (lesões na retina ocular) e distúrbios cardiovasculares. Apesar da cloroquina e seu análogo serem considerados seguros, possui uma janela terapêutica (margem entre a dose terapêutica e a dose tóxica) estreita, sendo que a escolha da dose e o monitoramento farmacoterapêutico por um profissional habilitado é fundamental. Sendo assim, a automedicação de cloroquina ou seu análogo é contraindicada. Além disso, é importante que o eletrocardiograma do paciente seja monitorado durante o uso deste medicamento, pois possui o risco de prolongamento do intervalo QT, aumentando o risco de ocasionar uma arritmia potencialmente fatal. Além do mais, este fármaco deve ser utilizado com cautela em pacientes com distúrbios cardíacos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, renais e gástricos e não é recomendado a sua utilização em gestantes, devido à ausência de estudos que avaliam a segurança deste medicamento neste grupo de pacientes. É importante também destacar que a cloroquina possui interações medicamentosas importantes, como por exemplo com anticonvulsivantes (aumentando o risco de convulsão); amiodarona, um antiarrítmico bastante utilizado (aumentando o risco de arritmias ventriculares), além de aumentar a toxicidade da digoxina e ciclosporina. Alguns medicamentos associados à cloroquina também podem aumentar o risco de cardiotoxicidade e ocasionar uma parada cardíaca, são estes: bepridil, cisaprida, gemifloxacino, halofantrina, isoflurano, mesoridazina, pimozida, terfenadina, tioridazina, ziprasidona. Fora que, o uso concomitante com heparina também pode ocasionar trombocitopenia (queda no número de plaquetas, ocasionando sangramentos). Sendo assim, essa medicação, como visto anteriormente, possui indicação médica específica e não deve ser utilizada desnecessariamente, comprometendo a disponibilidade para quem precisa.


Apesar dos estudos sugerirem um potencial efeito antiviral no COVID-19, estes ainda não são conclusivos. Uma revisão sistemática publicada recentemente analisou os principais artigos publicados sobre o tema, que pontuou várias críticas aos artigos publicados como: informações insuficientes sobre a metodologia do estudo; ausência de fontes para algumas informações que foram ditas e referenciadas nos artigos. Desta forma, os autores concluíram que existem evidências clínicas da eficácia da cloroquina sobre o tratamento de COVID-19, porém são necessárias mais pesquisas com dados de ensaios clínicos coordenados e de alta qualidade, proveniente de diferentes locais do mundo para se ter certeza da eficácia clínica da cloroquina e seu análogo sobre o tratamento de COVID-19.


Recentemente, a ANVISA liberou a pesquisa para avaliar tanto a efetividade quanto a segurança do tratamento da COVID-19 com a hidroxicloroquina em alguns hospitais de São Paulo. Os resultados dos estudos e também as boas práticas clínicas serão avaliadas pela agência e pelo Ministério da Saúde para garantir assim a fidelidade dos resultados. Desta forma, reforçamos que a cloroquina ainda não possui evidências concretas que comprovem a sua efetividade no tratamento da COVID-19 e, portanto não é recomendado a sua utilização.


 


Farmacêutica Leiliane Marcatto – Diretora Científica do departamento de Farmacologia da SOCESP


Referências:


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Brasil. Ministério da Saúde Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde Departamento de Assistência Farmacêu!ca e Insumos Estratégicos NOTA INFORMATIVA Nº 5/2020-DAF/SCTIE/MS. https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/marco/30/MS---0014167392---Nota-Informativa.pdf


Chatre C, Roubille F, Vernhet H, Jorgensen C, Pers YM. Cardiac Complications Atributed to Chloroquine and Hydroxychloroquine: A Systematic Review of the Literature. Drug Saf. 2018 Oct; 41(10):919-931.


Gautret P, Lagiera JC, Parola P, et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. 2020. In Press 17 March 2020.


Smith T, Bushek J, Prosser T. COVID-19 Drug Therapy – Potential Options. Elsevier. 26 mar 2020. https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0007/988648/COVID-19-Drug-Therapy_Mar-2020.pdf


Zhang C, Huang S, Zheng F, Dai Y. Controversial treatments: an updated understanding of the Coronavirus Disease 2019. J Med Virol. 2020 Mar 26. doi: 10.1002/jmv.25788.

 

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