Mesmo em tempo de coronavírus, cuidados para evitar a dengue devem ser mantidos
Especialista da Socesp alerta para complicações cardiológicas derivadas
das doenças causadas pelo Aedes aegypti. Por conta do verão
excessivamente chuvoso que enfrentamos e ainda em época de calor em
grande parte do país e o combate aos criadouros do mosquito não
devem ser negligenciados, mesmo com o protagonismo do coronavírus
em nossa rotina.
Boletim epidemiológico do início de fevereiro do Ministério da Saúde
aponta que o Aedes aegypti não tirou férias: o número de casos
prováveis da doença para as primeiras cinco semanas do ano foi 19%
superior aos notificados no mesmo período do ano passado. Em outras
palavras: os cuidados da população e das autoridades de saúde com a
dengue estão longe de serem renegados a segundo plano.
“A dengue – e outras doenças causadas pelo mosquito, como a zika e da
chikungunya – pode ocasionar complicações cardíacas em uma parcela
dos infectados”, diz o cardiologista e diretor científico da SOCESP
(Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) Luciano Drager. “A
miocardite é um exemplo.”
Segundo o médico, isso ocorre porque essas doenças desencadeiam
uma resposta de defesa, uma inflamação – que pode, em alguns casos,
ser excessiva e acabar atingindo outros órgãos, como o coração. “A
miocardite pode levar ao crescimento do coração e desencadear
arritmias, algumas vezes graves”, alerta. Entre os sintomas mais comuns
da miocardite estão dor no peito, palpitações, sensação de cansaço e
falta de ar. “Quando a doença evolui para essa complicação, essas
reações normalmente aparecem entre uma e duas semanas após a
contaminação.”
De acordo com Drager, apesar de, na maioria dos casos, o coração
voltar ao normal após o período de inflamação, o tratamento da
miocardite deve ser precoce e incluir acompanhamento de um
especialista, a fim de evitar sequelas e o aparecimento de outras
doenças cardiológicas.
Grupo de risco
Os incluídos no chamado grupo de risco – pessoas acima de 60 anos,
cardiopatas e aqueles com patologias crônicas em geral –, ao contraírem
dengue, devem buscar orientação médica para saber, inclusive, sobre
parar ou não de tomar medicações de uso contínuo. “Em pacientes com
problemas de coração, na ocorrência da forma mais agressiva da
doença, a dengue grave (conhecida por dengue hemorrágica), o uso de
medicamentos que afinam o sangue devem ser temporariamente
suspensos”, explica o cardiologista. Em outras situações, a queda na
pressão arterial provocada pela dengue pode exigir e redução ou
suspensão dos remédios de quem controla a pressão por via
medicamentosa. “Mas vale reforçar que, estatisticamente, a grande
maioria dos acometidos pela dengue não apresentarão cardiopatias
derivadas da infecção viral.”